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SEGURANÇA,
CERTEZA E GOZO
Da Salvação Eterna
Quando estamos numa estação ferroviária ouvimos, com
certa frequência, a seguinte pergunta: "Em que
classe você está viajando?" Você, leitor, com
toda a certeza está de viagem - de viagem para a
Eternidade - e pode ser que neste momento esteja muito próximo
da estação final: a Morte. Permita-me, então, que lhe
pergunte: "Nesta jornada pela vida, em que classe
você está viajando?"
Neste caso podemos pensar em três diferentes classes, e
vou explicar quais são a fim de que você possa
responder à minha pergunta como que diante de Deus; sim,
diante dAquele a Quem certamente todos nós temos que
prestar contas.
Na PRIMEIRA CLASSE viajam, por assim
dizer, os que estão salvos e sabem disso.
Na SEGUNDA CLASSE viajam aqueles que não
têm certeza da sua salvação, mas que, no entanto,
desejam tê-la.
Na TERCEIRA CLASSE viajam aqueles que não
estão salvos e nem tampouco se interessam pelo assunto.
Volto a perguntar: "Em qual destas classes você está
viajando?" Oh, como é importante que você possa
responder claramente a esta pergunta!
Há pouco tempo atrás, numa viagem que fiz de trem, no
momento em que o trem se preparava para partir da estação,
vi chegar um homem que se precipitou ofegante para dentro
do vagão onde eu me encontrava.
- Isto é que é correr! - exclamou um dos passageiros.
- É verdade - respondeu o homem respirando com
dificuldade - mas ganhei quatro horas e por isso valeu a
pena.
"Ganhei quatro horas"! Ao ouvir estas palavras
não pude deixar de pensar comigo mesmo: "Se para
ganhar quatro horas valeu a pena fazer um tão grande
esforço, quanto mais para ganhar a Eternidade!" E,
contudo, existem milhares de pessoas, que embora sejam
bastante prudentes em tudo o que se refere aos seus
interesses mundanos, parecem não ter um mínimo de bom
senso quando alguém lhes fala de seus interesses eternos!
Apesar do infinito amor de Deus para com os pecadores,
manifestado na morte de Jesus Cristo na cruz; apesar do
Seu declarado ódio ao pecado; da evidente brevidade da
vida humana; dos terrores do julgamento depois da morte;
da terrível perspectiva de sofrer insuportáveis
remorsos ao achar-se no inferno, separado para sempre de
Deus; apesar de tudo isso, muitos correm para o seu
triste fim tão descuidados como se não existisse nem
Deus, nem morte, nem julgamento, nem céu, nem inferno!
Que Deus tenha misericórdia de você, leitor, se você
for uma dessas pessoas, e que neste momento Ele abra os
seus olhos para que você reconheça o perigo que é
continuar despreocupadamente no caminho que conduz à
perdição eterna.
Caro leitor, quer você acredite ou não, a sua situação
é bem crítica. Não deixe, portanto, de enfrentar o
quanto antes a questão da Eternidade e do destino que
você terá nela, pois qualquer demora poderá ser fatal.
Lembre-se de que o costume de deixar para amanhã o que
se pode fazer hoje é sempre prejudicial e neste caso
poderá ter consequências desastrosas. Quão verdadeiro
é o ditado: "A estrada do MAIS TARDE conduz à
cidade do NUNCA"! Rogo, pois, encarecidamente,
querido leitor, que não continue a viajar por um caminho
tão enganoso e perigoso, pois está escrito na Bíblia
Sagrada: "Eis aqui agora o dia da salvação" (2
Co 6.2).
Talvez você diga: - Não sou indiferente aos interesses
da minha alma; longe de mim tal pensamento, mas a minha
maior inquietação exprime-se por outra palavra:
INCERTEZA. Por esta razão encontro-me entre os
passageiros da segunda classe de que falou.
Pois bem, amigo leitor, tanto a indiferença como a
incerteza são filhas da mesma mãe: a incredulidade. A
indiferença provém da incredulidade no que diz respeito
ao pecado e às suas consequências presentes e eternas.
A incerteza, com sua consequente inquietação, provém
da incredulidade acerca do infalível remédio que Deus
oferece a você. Ora, estas páginas são dirigidas
especialmente àqueles que, como você, desejam ter a
completa e incontestável certeza da salvação.
Até certo ponto posso compreender bem a inquietação de
sua alma e estou convencido de que quanto mais
sinceramente interessado você estiver neste assunto,
maior será a sua avidez para ter a certeza de que está
real e verdadeiramente salvo da ira divina dirigida
contra o pecado. "Pois que aproveita ao homem ganhar
o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mt 16.26),
disse o Senhor Jesus.
Suponhamos que o filho de um pai amoroso encontra-se
viajando de navio. Chega, entretanto, a notícia de haver
naufragado, numa costa estrangeira, o navio em que ele se
encontrava. Quem poderá descrever a angústia que a
incerteza produz no ânimo daquele pai enquanto não se
certificar, por um testemunho fidedigno, de que o seu
filho está salvo? Suponhamos ainda uma outra hipótese.
Numa noite escura e tempestuosa você está seguindo por
um caminho desconhecido. Ao chegar a uma encruzilhada você
encontra alguém e lhe pergunta qual é o caminho que
conduz ao povoado aonde deseja chegar, e ele, indicando
um dos caminhos, responde: "Parece-me que é aquele,
mas não tenho certeza; espero não estar enganado".
Você ficaria satisfeito com uma resposta tão vaga e
indecisa? Decerto que não. Você precisaria ter certeza,
do contrário cada passo que desse naquela direção só
aumentaria a sua inquietação. Por isso, não admira que
tenha existido homens que, sentindo-se pecadores expostos
à ira divina, não conseguiram mais dormir, e nem mesmo
comer, enquanto a questão da salvação de suas almas não
estivesse resolvida. Podemos sentir muito pela perda de
nossos bens, ou talvez até mesmo pela perda de nossa saúde,
mas o mais penoso de tudo seria a perda de nossa alma.
Pois bem, amigo leitor, há três coisas que, com o auxílio
do Espírito Santo, desejo mostrar a você, as quais, na
própria linguagem das Sagradas Escrituras são as
seguintes:
1. O CAMINHO DA SALVAÇÃO (Atos 16.17).
2. O CONHECIMENTO DA SALVAÇÃO (Lucas 1.77)
3. A ALEGRIA DA SALVAÇÃO (Salmo 51.12).
Estas três coisas, embora intimamente ligadas, baseiam-se,
todavia, cada uma delas, em verdades diferentes, de modo
que é muito possível uma pessoa saber qual é o caminho
da salvação, sem contudo ter o conhecimento de estar
pessoalmente salva; ou mesmo conhecer que está salva,
sem possuir contudo a alegria que deve acompanhar esse
conhecimento. Falaremos, pois, em primeiro lugar do
CAMINHO DA SALVAÇÃO
A primeira parte da Bíblia Sagrada, o Antigo Testamento,
está repleta de figuras ou símbolos de coisas
espirituais, como diz o apóstolo Paulo: "Tudo o que
dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito" (Rm
15.4). Vejamos, pois, qual o sentido espiritual de uma
dessas figuras contidas no Antigo Testamento, no livro de
Êxodo, onde se lêem estas palavras em relação à lei
dada por Deus, por intermédio de Moisés, ao seu povo na
antiguidade: "Porém tudo o que abrir a madre da
jumenta, resgatarás com cordeiro; e se o não
resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça: mas todo o primogênito
do homem entre teus filhos resgatarás" (Êx 13.13).
Com estas palavras na memória, voltemos, em pensamento,
a uns três mil anos atrás e vamos supor que nos
encontramos perto de dois homens que estão conversando
seriamente, um deles sacerdote de Deus e o outro um
simples e pobre camponês israelita. Nossa atenção é
atraída pelos gestos e pela maneira de ambos, que
demonstra estarem tratando de um assunto importante. Ao
observá-los, descobrimos que o assunto diz respeito a um
jumentinho que está ao lado deles.
- Vim perguntar - diz o pobre israelita - se não pode
ser feita uma exceção a meu favor, só desta vez. Este
animal é o primogênito de uma jumenta que tenho e,
embora eu saiba o que diz a lei de Deus a seu respeito,
espero que haja misericórdia e seja poupada a vida do
jumentinho. Sou apenas um pobre em Israel e não posso
pensar em perder este animal.
O sacerdote, porém, responde com firmeza:
- A lei de Deus é clara e não admite dúvidas: "TUDO
o que abrir a madre da jumenta, resgatarás com cordeiro;
e se o não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça".
Por que, então, você não traz um cordeiro?
- Ah, senhor, não tenho nenhum cordeiro! - replica o
homem.
- Então vá comprar um e traga-o aqui; caso contrário o
jumento terá que ser morto.
- Ai de mim! - exclama o pobre homem - neste caso todas
as minhas esperanças estão perdidas, pois sou muito
pobre e não posso de maneira alguma comprar um cordeiro.
Mas, durante a conversa, aproxima-se uma terceira pessoa
que, ouvindo a triste história do homem, volta-se para
ele e lhe diz bondosamente:
- Não fique desanimado, pois posso resolver o seu
problema. Temos em casa um cordeiro que é muito querido
de todos os de minha família, pois não tem nem uma única
mancha nem defeito algum, e nunca se extraviou; vou já
buscá-lo.
Pouco depois o homem está de volta, trazendo o cordeiro
que em seguida é morto e o seu sangue derramado. O
sacerdote volta-se então para o pobre israelita e lhe
diz:
- Agora você pode levar o seu jumentinho para casa e
ficar certo de que não precisará matá-lo. Graças ao
seu amigo, o cordeiro morreu no lugar dele e, portanto, o
jumentinho fica, com toda a justiça, totalmente livre.
Ora, querido leitor, acaso você não vê nisto um quadro
divino da salvação do pecador? Em consequência dos
seus pecados a justiça de Deus exige a sua morte, isto
é, o seu justo castigo. A única alternativa que resta a
você é a morte de um substituto aprovado por Deus. Você
jamais poderia, de si mesmo, providenciar o necessário
para sair da desesperada situação em que se encontra.
Deus, porém, na Pessoa de Seu amado Filho, supriu, Ele
próprio, um Substituto: "Eis o Cordeiro de Deus",
disse João aos seus discípulos ao contemplarem o
bendito e imaculado Salvador. "Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29).
E, com efeito, Jesus subiu ao Calvário, "levado
como a ovelha para o matadouro" (At 8.32), e ali
"padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos
injustos, para levar-nos a Deus" (1 Pd 3.18). "O
qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para
nossa justificação" (Rm 4.25). De modo que Deus,
ao justificar o ímpio que crê em Jesus; ao absolvê-lo
de toda a culpa, em nada sacrifica as justas exigências
do Seu trono dirigidas contra o pecado. Ele é
absolutamente justo em assim justificar aquele que tem fé
em Jesus (Romanos 3.26). Bendito seja Deus, por nos dar
um tal Salvador e uma tal Salvação!
Caro leitor, você crê no Filho de Deus? Se você
responder "Sim! Como um pecador condenado tenho
encontrado nEle Aquele em Quem posso confiar com toda a
segurança. Creio verdadeiramente nEle!", neste caso
posso lhe assegurar que, perante Deus, o grande valor do
sacrifício e morte de Cristo, conforme Deus o aprecia,
aproveita tanto à sua alma como se você mesmo tivesse
sofrido, em si mesmo, a condenação merecida.
Oh, que admirável salvação é esta! É grande, é
digna de Deus! Por ela Deus satisfaz os desejos do Seu
bondoso coração, dá glória ao Seu amado Filho, e
assegura a salvação do pobre pecador que nEle crê.
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
que determinou que o Seu próprio Filho completasse essa
grande obra e recebesse por ela todo o louvor; e que nós,
pobres criaturas culpadas, não somente alcançássemos
toda a bênção por meio da fé nEle, mas também gozássemos
eternamente a bem-aventurada companhia dAquele que assim
nos abençoou! "Engrandecei ao Senhor comigo, e
juntos exaltemos o Seu nome" (Sl 34.3).
Mas, talvez você pergunte ansiosamente: "Como é
que ainda não tenho completa certeza da minha salvação,
embora já não confie mais em mim mesmo, nem nas minhas
obras, mas só, única e inteiramente em Cristo e na Sua
obra? Como é que, se um dia os sentimentos do meu coração
me dizem que estou salvo, no dia seguinte me vejo
assaltado de dúvidas? Sou como um navio surpreendido
pela tempestade, sem poder achar ancoradouro seguro em
nenhuma parte". Ah! eis aí o seu engano, e vou
explicar o por quê. Porventura você já ouviu falar de
algum capitão que procurasse ancorar seu navio lançando
a âncora para dentro do próprio navio? Nunca! Ele
sempre a lança para fora!
Vejamos, então, o seu caso. Pode ser que você já
esteja completamente convencido de que a segurança de
sua alma, quanto ao julgamento divino, depende somente da
morte de Cristo; porém você imagina, ao mesmo tempo,
que são os seus sentimentos que hão de lhe dar a
CERTEZA da sua participação nos benefícios dessa morte.
Vamos olhar novamente para a Bíblia, pois quero que você
veja nela o modo como, pela Sua Palavra, Deus nos dá:
O CONHECIMENTO DA SALVAÇÃO
Antes, porém, de procurarmos o versículo que você deve
ler cuidadosamente, o qual nos ensina COMO UM CRENTE PODE
SABER QUE TEM A VIDA ETERNA, permita-me citá-lo de
maneira errada, ou seja, da maneira como muitos parecem
entendê-lo: "Estes alegres sentimentos vos dou a
fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros
que credes em o nome do Filho de Deus". Compare
agora isto com a bendita e inalterável Palavra divina, e
permita Deus que você possa se firmar nela, rejeitando
todos os pensamentos vãos. Ora, o versículo de que
falei é o versículo 13 do capítulo 5 da Primeira Epístola
de João, que na Bíblia (Versão Almeida Atualizada) está
escrito assim: "ESTAS COISAS VOS ESCREVI a fim de
SABERDES que TENDES a vida eterna, a vós outros que
credes em o nome do Filho de Deus".
A história sagrada do Antigo Testamento nos relata um
acontecimento que explica exatamente o modo pelo qual nós
podemos ter a inabalável certeza da salvação de que o
versículo acima nos fala. Esse acontecimento é a saída
do povo de Israel da terra do Egito, o que lemos no capítulo
12 do livro de Êxodo. Como podiam os primogênitos do
povo de Israel saber, com toda a certeza, que estavam
seguros durante aquela terrível noite da Páscoa, quando
Deus derramava sobre o Egito o Seu tremendo castigo?
Vamos supor que nos encontramos no Egito nessa solene
ocasião, e que visitamos duas das casas dos israelitas.
Na primeira casa encontramos toda a família aterrorizada
e cheia de receios, dúvidas e incertezas:
- Qual é o motivo de tanta palidez e medo?- perguntamos.
- Ah! - responde o primogênito, - o anjo da morte vai
atravessar a terra do Egito esta noite, e não sei o que
será de mim quando chegar a meia-noite. Só depois que o
anjo exterminador tiver passado por nossa casa, e a hora
do juízo tiver terminado, é que saberei que estou
salvo, mas antes disso não sei como posso ter a certeza
de que nada me há de acontecer. Os nossos vizinhos do
lado dizem que têm certeza da sua segurança, mas acho
que isso é ter muita presunção. O melhor que eu posso
fazer é passar esta longa e terrível noite esperando
que tudo me saia bem.
- Porém - inquirimos - o Deus de Israel não
providenciou um meio de segurança para o Seu povo?>
- Certamente que sim - responde ele - e nós já usamos
esse meio. O sangue de um cordeiro de um ano, cordeiro
sem defeito algum, já foi devidamente espargido com um
molho de hissopo sobre a verga e ombreiras da porta; mas
apesar disso, não temos ainda plena certeza de que eu
esteja seguro.
Deixemos agora esta pobre gente, atribulada e cheia de dúvidas,
e entremos na casa ao lado. Que notável contraste se
apresenta logo à nossa vista! A paz e o sossego brilham
em todos os rostos. Ali estão todos, de cajado na mão,
a comer o cordeiro assado e já prontos para caminhar.
- Qual é o motivo de tão grande tranquilidade em noite
tão solene? - perguntamos.
- Ah! - respondem todos - estamos aguardando as ordens de
Jeová, nosso Deus, para sairmos de viagem, quando então
daremos as últimas despedidas ao chicote do tirano e à
cruel escravidão do Egito.
- Mas esperem! Vocês estão se esquecendo de que à meia-noite
o anjo de Deus vai percorrer a terra do Egito, ferindo de
morte os primogênitos...?
- Sabemos disso muito bem, mas o nosso filho já está
perfeitamente seguro porque já espargimos o sangue na
porta, segundo a vontade e ordem do nosso Deus.
Mas também os vizinhos fizeram o mesmo, - respondemos, -
e contudo estão todos tristes, porque não têm nenhuma
certeza de segurança.
- Ah - diz o primogênito com firmeza - mas nós não
temos somente o sangue espargido: temos também uma
confiança absoluta na Palavra inabalável do nosso Deus.
Deus disse: "Quando Eu vir o sangue, passarei por vós".
Portanto Deus fica satisfeito VENDO O SANGUE lá fora, e
nós aqui dentro ficamos descansando na SUA PALAVRA. O
sangue espargido é a base da nossa segurança. A palavra
proferida por Deus é a base da nossa certeza de salvação.
Porventura há alguma coisa que possa tornar-nos mais
seguros do que o sangue espargido, ou que possa dar-nos
mais certeza do que a Palavra proferida por Deus? Nada,
absolutamente nada. Eis a razão da nossa paz!
Ora, leitor, qual dessas duas famílias você acha que
estava mais ao abrigo da espada do anjo da morte? Talvez
você diga que era a segunda, onde todos gozavam daquela
tranquila confiança. Você está enganado: ambas estavam
igualmente seguras, pois a segurança de ambas dependia,
não dos sentimentos dos que estavam dentro da casa, mas
sim da maneira como Deus apreciava o sangue espargido
fora da casa, sobre a porta. Se você quiser ter a
certeza da sua própria salvação, leitor, não dê atenção
aos seus sentimentos, mas sim ao testemunho infalível da
Palavra de Deus. "Na verdade, na verdade vos digo
que aquele que crê em mim TEM a vida eterna" (Jo 6.47).
A fim de esclarecer mais este ponto, vou me valer de um
simples exemplo tirado da vida cotidiana. Certo lavrador,
não tendo pastagens suficientes para o seu gado, e
ouvindo dizer que uma bela pastagem próxima à sua casa
está para alugar, comunica ao proprietário seu
interesse em arrendá-la. Passa-se algum tempo sem que
receba resposta do proprietário. Enquanto isso, um
vizinho visita o lavrador e lhe diz:
- Estou certo de que ele alugará a pastagem a você. Você
não se lembra de que no último ano o proprietário
enviou-lhe um presente de caça, e não recorda também
da maneira como o cumprimentou quando passou por sua casa
há alguns dias?" Eis agora o lavrador todo cheio de
esperanças!
No dia seguinte encontra-se com outro vizinho, que
durante a conversa lhe diz:
- Receio que você não poderá usar aquela pastagem.
Ouvi dizer que o sr. Fulano também a quer, e você sabe
como ele é amigo do proprietário.
Esta notícia faz desvanecer as esperanças do pobre
lavrador; e assim continua ele; um dia muito esperançoso,
outro dia cheio de dúvidas. Por fim recebe uma carta
pelo correio e, ao reconhecer a letra do proprietário da
pastagem, abre-a com viva ansiedade; mas à medida que
vai lendo, o sobressalto vai se transformando em satisfação
que se lhe retrata no rosto.
- Está tudo resolvido,- exclama, dirigindo-se à sua
esposa; - acabaram-se as dúvidas e os receios! O
proprietário diz que me arrenda a pastagem por todo o
tempo que eu quiser, e em condições muito favoráveis.
Isto me basta; agora já não me importo mais com a opinião
de ninguém, seja lá quem for; a palavra do proprietário
assegura-me a posse.
Quantas pobres almas há por aí, às quais acontece o
mesmo que aconteceu ao lavrador; andam agitadas e
perturbadas porque escutam as opiniões dos homens, ou se
ocupam com os pensamentos e sentimentos dos seus próprios
corações, ao passo que, se com sinceridade recebessem a
Palavra de Deus, como sendo a Palavra de Deus, as dúvidas
que os atribulam cederiam imediatamente seu lugar à
CERTEZA.
As Escrituras dizem que aquele que crê está salvo, e
que aquele que não crê está condenado. Não pode haver
dúvida, nem em um caso nem em outro, pois é Deus Quem o
diz, e para o crente de coração sincero a Palavra de
Deus resolve tudo. "Porventura diria Ele, e não o
faria? ou falaria, e não o confirmaria?" (Nm 23.19).
Deus tem falado, e o crente, satisfeito, pode dizer:
Mais provas não exijo eu
Nem mais demonstração;
Já sei que Cristo padeceu
Para minha salvação.
Mas, talvez haverá alguém que ainda pergunte: "Como
hei de saber com certeza se tenho a verdadeira fé?"
A esta pergunta temos que responder com outra pergunta:
"Você tem fé no verdadeiro Salvador: isto é, no
bendito Filho de Deus?" A questão não é saber se
a sua fé é muita ou pouca, forte ou fraca, mas se a
Pessoa em quem você colocou a sua confiança é digna
dela. Há alguns que se agarram a Cristo com uma energia
semelhante à do homem que se afoga. Há outros, porém,
que apenas tocam, por assim dizer, na orla do Seu
vestido; mas os primeiros não estão mais seguros do que
os últimos. Todos fizeram a mesma descoberta, isto é,
que em si mesmos não há nada em que possam confiar, mas
que podem todavia fiar-se seguramente em Cristo, podem
fiar-se tranquilamente na Sua Palavra, e podem, portanto,
descansar com toda a confiança na eterna eficácia da
Sua obra perfeita. É isto que se entende por crer nEle,
e é Sua a promessa: "Na verdade, na verdade vos
digo que aquele que crê em mim, tem a vida eterna"
(Jo 6.47).
Portanto, cuidado leitor; não ponha a sua confiança nas
suas boas intenções ou no seu arrependimento e penitências,
ou em quaisquer outros atos religiosos, nem mesmo nos
seus piedosos sentimentos, nem na educação moral que
possa ter recebido, nem em quaisquer outras coisas
semelhantes. É até possível que você confie
firmemente em algumas destas coisas, ou em todas elas
juntas, e contudo venha a perder-se eternamente; porém a
fé em nosso Senhor Jesus Cristo, por mais fraca que
seja, salva eternamente, ao passo que a fé, mesmo que
forte, em outra coisa ou pessoa qualquer é apenas o
fruto de um coração enganado.
Deus, no Evangelho, apresenta a você o Senhor Jesus
Cristo, e diz: "Este é o meu Filho amado, em Quem
Me comprazo" (Mt 3.17). É como se Deus dissesse:
"Ainda que você não possa confiar em si mesmo,
pode contudo confiar sem receio em Jesus". Bendito,
mil vezes bendito Senhor Jesus! Quem não há de confiar
em Ti e exaltar o Teu nome?
- Creio deveras nEle, - disse-me um dia uma jovem, com
certa tristeza, - todavia não me atrevo a dizer que
estou salva, com receio de dizer talvez uma mentira.
Esta jovem era filha de um negociante de gado em uma
pequena vila, e seu pai havia ido, naquele mesmo dia, à
feira e ainda não tinha voltado.
- Suponhamos agora - disse-lhe eu - que quando seu pai
voltar você lhe pergunte quantas ovelhas comprou hoje, e
ele responda: "Dez". Suponhamos ainda que logo
em seguida entre um freguês e lhe pergunte: "Quantas
ovelhas seu pai comprou hoje?" Porventura você
responderia: "Não me atrevo a dizer, com receio de
mentir"?
Nisto, a mãe da menina, que escutava nossa conversa,
disse com certa indignação: - Isso seria o mesmo que
dizer que seu pai é mentiroso.
Ora, querido leitor, você não percebe que essa menina,
embora bem intencionada, estava realmente a fazer do
Senhor Jesus um mentiroso, quando dizia: "Eu creio
no Filho de Deus, porém não me atrevo a dizer que tenho
a vida eterna, porque receio dizer talvez uma mentira"?
Que incredulidade!
- Mas, - alguém poderá dizer, - como posso ter a
certeza de que realmente creio? Tenho me esforçado
muitas vezes para crer, e procurado ler no meu íntimo se
o tenho conseguido; mas quanto mais penso na minha fé, a
mim menos parece que eu creia.
Meu amigo, a maneira como você olha para estas coisas não
poderia ter outro resultado, e o fato de você dizer que
se esforça para crer demonstra claramente que não
compreende a questão. Deixe-me, portanto, apresentar-lhe
outro exemplo para explicar melhor este ponto.
Suponhamos que você se encontre certa noite em sua casa
e entre alguém dizendo que o chefe da estação da
estrada de ferro acaba de morrer esmagado por um trem.
Acontece, porém, que esse indivíduo que lhe traz a notícia
há muito tempo é tido em toda a vizinhança como um
grande mentiroso. Você acreditaria nele, ou se esforçaria
para acreditar nele?
- Decerto que não! - você me responderá prontamente.
- E por que não?
- Porque eu o conheço bem demais para saber que é um
mentiroso.
- Mas, - pergunto - como é que você sabe que não crê
no que ele disse? Será que para isso você precisou
examinar sua fé?
- Não; é porque sei que o homem que me dá a notícia não
é digno de confiança.
Pouco depois entra um outro indivíduo e diz:
- O chefe da estação foi hoje atropelado por um trem e
ficou esmagado.
Após ele sair, escuto você dizer prudentemente:
- Agora estou quase crendo que seja verdade, pois conheço
este homem desde pequeno e pelo que me lembre, só me
enganou uma vez.
- Ora, - pergunto eu de novo, - será que desta vez você
sabe que quase crê por ter examinado sua própria fé?
- Não; é porque tenho em conta o caráter de quem me dá
a notícia.
Este homem acaba de sair de sua casa e entra um terceiro.
Este, que é um amigo que lhe inspira a mais absoluta
confiança, não faz mais do que confirmar a notícia.
Desta vez então você diz:
- Agora é que creio, João; por ser você quem está me
afirmando isto, eu posso crer.
Insisto ainda na minha pergunta, que como você há de
recordar, é apenas um eco da sua:
- Como é que você pode SABER agora que crê tão
positivamente no que disse o seu amigo?
- É porque conheço bem a pessoa e o caráter dela - você
me responde. - Nunca, em toda a sua vida, me enganou, e não
a julgo capaz de fazê-lo.
Pois bem, é justamente por esta razão que eu também
sei que creio no Evangelho: é por ele me ser mandado
pelo próprio Deus. O apóstolo João diz: "Se
recebemos o testemunho dos homens, o TESTEMUNHO DE DEUS
é maior; porque o testemunho de Deus é este, que de Seu
Filho testificou... quem a Deus não crê mentiroso O fez:
PORQUANTO NÃO CREU NO TESTEMUNHO que Deus de Seu Filho
deu" (1 Jo 5.9,10). E Paulo diz: "Creu Abraão
a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça" (Rm 4.3).
Em certa ocasião uma pessoa ansiosa pela salvação
disse a um servo de Deus:
- Ah! senhor, eu não posso crer! -, ao que lhe respondeu
o pregador com muito acerto:
- É verdade?... E em QUEM você não pode crer? - Esta
simples pergunto foi suficiente para lhe abrir os olhos.
Até ali tinha pensado que a fé era alguma coisa
misteriosa que deveria sentir dentro de si, e que sem
senti-la não poderia ter certeza da sua salvação. Mas
afinal a fé do crente faz com que ele olhe, não para si
mesmo, mas, ao contrário, para Cristo e para a Sua obra
consumada no Calvário, e o leve a aceitar confiadamente
o testemunho que um Deus fiel dá acerca de ambos e assim
alcança a paz. Quando uma pessoa se volta para o sol, a
sua sombra fica para trás; assim também quando nos
voltamos para Cristo glorificado no céu, não mais nos
preocupamos conosco.
Fica pois demonstrado que a bendita PESSOA do Filho de
Deus ganha a nossa confiança; a Sua OBRA CONSUMADA nos dá
segurança eterna; e a PALAVRA de Deus, acerca de todo o
que nEle crê, nos dá a certeza inalterável de tal
segurança. Encontramos em Cristo e na Sua obra o caminho
da Salvação; e na Palavra de Deus o conhecimento da
Salvação.
- Mas - dirá talvez o leitor, - se tenho a vida eterna,
como é que tenho sentimentos tão inconstantes, perdendo
com frequência toda a minha alegria e consolação,
achando-me sem paz e quase tão triste como antes de ter
sido convertido?
Esta pergunta nos leva a tratar de nosso terceiro ponto
que é:
O GOZO DA SALVAÇÃO
A Palavra de Deus nos ensina que, enquanto o crente é
salvo da ira futura pela obra de Cristo, e tem a certeza
da salvação pela Palavra de Deus, ele conserva a
consolação e alegria pelo poder do Espírito Santo que
habita em si (1 Co 6.19).
Convém lembrar que toda pessoa salva ainda tem em si o
que as Sagradas Escrituras chamam de "carne",
isto é, a natureza pecaminosa com que nascemos, e que
começa a se manifestar desde a nossa mais tenra infância.
O Espírito Santo no crente resiste à "carne",
e fica entristecido sempre que ela se manifesta por
pensamentos, palavras ou obras. Quando o crente procede
de um modo digno do Senhor, o Espírito Santo produz em
sua alma o seu bendito fruto: amor, gozo, paz, etc. (veja
Gálatas 5.22). Porém quando ele procede de um modo
carnal e mundano, o Espírito Santo é entristecido e,
como consequência, falta, na vida do crente, este fruto
espiritual.
Permita-me, leitor, expor sua situação, como crente, da
seguinte forma:
A obra de Cristo e a sua salvação: Ficam em pé ou caem
juntamente;
O seu comportamento e o seu gozo: Ficam em pé ou caem
juntamente.
Se fosse possível a obra de Cristo cair por terra, o que
graças a Deus nunca poderá acontecer, a sua salvação
cairia juntamente com ela. Porém, quando por qualquer
descuido você não tiver um comportamento próprio de um
cristão, (o que pode muito bem acontecer), você ficará
também sem desfrutar o gozo.
Em Atos dos Apóstolos, está escrito a respeito dos
primeiros cristãos que andavam "no TEMOR DO SENHOR
e CONSOLAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO" (At 9.31); e também
"os discípulos estavam cheios de ALEGRIA e do ESPÍRITO
SANTO" (At 13.52). Depois de sermos convertidos, o
nosso gozo espiritual será sempre proporcional ao caráter
espiritual do nosso comportamento.
Você percebe agora, leitor, em que consiste o seu
engano? Você tem confundido duas coisas diversas, que são:
a segurança da salvação, e o gozo que resulta dela. Se
porventura você entregar-se à sua vontade-própria, ao
seu mau gênio, ou aos prazeres mundanos, etc., o Espírito
Santo Se entristecerá e logo você perderá sua alegria
espiritual e talvez pense ter perdido também a sua
segurança. Repito, porém, mais uma vez:
A sua SEGURANÇA depende da obra que Cristo fez
por você.
A sua CERTEZA depende da Palavra que Deus dirige a você.
O seu GOZO depende de você não entristecer o Espírito
Santo que habita em você.
Se você, sendo filho de Deus, entristecer o Espírito
Santo, a sua comunhão com Deus Pai e com o Seu bendito
Filho ficará, como consequência, logo interrompida; e
enquanto você, arrependido, não reconhecer e confessar
o seu pecado a Deus, aquela comunhão e aquele gozo não
lhe serão restaurados.
Suponhamos que uma criança qualquer faça uma maldade.
Sentindo que praticou o mal e desconfiando que seus pais
já saibam do ocorrido, ela mostra logo em seu rosto os
evidentes sinais de perturbação. Meia hora antes ela
estava alegre a gozar juntamente com os pais de um
passeio no jardim, agradando-se naquilo que agradava a
eles também, e gozando aquilo que eles também
desfrutavam. Em outras palavras, ela estava em comunhão
com eles; tinham todos os mesmos sentimentos. Mas isso
cessou num momento, e como criança travessa e
desobediente, nós a encontramos agora em um canto, toda
triste. Os pais, notando sua tristeza, perguntam-lhe pelo
motivo, dizendo-lhe que, se tiver feito qualquer maldade,
deve confessar tudo e eles a perdoarão; mas o orgulho e
a teimosia a mantém ali calada.
Onde está agora a alegria que essa criança tinha há
meia hora? Desapareceu completamente. Por que? Porque se
interrompeu a comunhão entre ela e seus pais, devido à
sua maldade. Mas o que é feito do parentesco que, há
meia hora, existia entre ela e seus pais? Porventura
desapareceu isto também? Acaso cessou ou se interrompeu?
Certamente que não.
O seu PARENTESCO depende do seu nascimento.
A sua COMUNHÃO depende do seu comportamento.
Passado, porém, algum tempo, ela sai do canto, onde
tinha permanecido, e já arrependida e com o coração
quebrantado, humilha-se e confessa toda a sua falta, do
princípio ao fim, de modo que os pais percebem que ela
odeia agora, tanto quanto eles, a sua desobediência e
travessura. Então, tomando-a nos braços, cobrem-na de
beijos. A sua alegria restabelece-se, porque também a
sua comunhão com os pais está agora restabelecida.
Lemos que o rei Davi, tendo em certa ocasião pecado
gravemente, se arrependeu e voltou-se para Deus orando:
"Torna a dar-me a alegria da tua salvação" (Sl
51.12). Notemos que não pediu que lhe fosse restituída
a salvação, mas a alegria da salvação.
Imaginemos agora o caso de outra maneira. Suponhamos que
enquanto a criança se encontrava no canto, soluçando e
sem dar provas de querer reatar comunhão com seus pais,
se ouvisse um grito de "Fogo!" O que iria ser
da criança? Porventura seus pais a deixariam naquele
canto para ser consumida pelo fogo que devora a casa?
Impossível! Seria até mais provável que ela fosse a
primeira pessoa que os pais tirariam para fora de casa e
poriam a salvo. Todos devem saber perfeitamente que o
amor de parentesco é uma coisa, e que o gozo da comunhão
é outra inteiramente diferente.
Ora, quando um crente cai em pecado, a sua comunhão com
Deus Pai fica por algum tempo interrompida, e falta-lhe o
gozo até que, com o coração contrito, se volte para o
Pai e Lhe confesse os seus pecados. Então, confiando na
Palavra de Deus, sabe que está de novo perdoado; porque
a Sua Palavra claramente diz que: "Se confessarmos
os nossos pecados, ele é fiel e justo, para nos perdoar
os pecados, e nos purificar de toda a injustiça" (1
Jo 1.9).
Assim, pois, ó filho querido de Deus, lembre-se sempre
destas duas importantes verdades: que não há nada tão
forte como o LAÇO DE PARENTESCO; e nada há tão frágil
como o LAÇO DA COMUNHÃO. Todas as forças e todas as
maquinações da terra e do inferno reunidas não podem
quebrar o primeiro, ao passo que basta apenas um
pensamento impuro, ou uma palavra leviana, para quebrar
imediatamente o segundo.
Se porventura você tiver alguma vez a sua alma
atribulada, humilhe-se perante Deus, e examine a sua
consciência. E quando você tiver descoberto o ladrão,
o pecado que lhe roubou a alegria, traga-o para a luz da
presença de Deus; isto é, confesse o seu pecado a Deus,
seu Pai, e julgue-se a si mesmo, pelo seu descuido e pela
falta de vigilância da sua alma que, assim, deixou
entrar às escondidas o inimigo. Mas não confunda nunca,
NUNCA, a sua segurança com o seu gozo.
Não imagine, todavia, que o julgamento de Deus é menos
severo contra o pecado do crente, do que contra o do incrédulo.
Ele não tem dois modos diferentes de tratar com o pecado.
Seria impossível a Deus passar por alto, sem julgar,
tanto os pecados do crente como os do incrédulo que
rejeita ao Seu precioso Filho. Há, porém, entre os dois
casos a seguinte diferença:
O pecado do crente foi previsto por Deus, havendo-o lançado
sobre Cristo, o Cordeiro divino, quando Este foi
crucificado no Calvário. Ali, de uma vez para sempre,
foi levantada a grande questão criminal da sua culpa,
recaindo o castigo, que o crente merecia, sobre o seu
bendito Substituto. "Levando Ele mesmo em Seu corpo
os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pd 2.24). O
incrédulo, porém, que rejeita ao Senhor Jesus Cristo, há
de sofrer, ele próprio, as consequências eternas dos
seus pecados no lago de fogo.
Ora, quando um crente comete uma falta, a questão
criminal do pecado não pode ser suscitada novamente
contra ele, porque o próprio Jesus, constituído agora o
Juiz de todos, é Quem a resolveu de uma vez para sempre
sobre a cruz; porém a questão da comunhão é levantada
dentro da sua alma pelo Espírito Santo, todas as vezes
que o crente O entristece.
Permita-me que, em conclusão, me sirva de outro exemplo.
Imaginemos uma noite serena e magnífica, com a lua
brilhando com o seu maior esplendor. Um homem está
olhando atentamente para um lago profundo, em cuja superfície
a lua se reflete admiravelmente e, dirigindo-se a um
amigo que está ao seu lado, lhe diz:
- Como a lua está linda esta noite, tão cheia e
brilhante!
Porém, apenas acaba de falar, seu companheiro deixa cair
uma pedra dentro do lago e logo o primeiro exclama:
- Que é isto? a lua fez-se em pedaços, e os seus
fragmentos estão batendo uns contra os outros na maior
confusão!
- Que absurdo! - responde seu companheiro. - Olhe para
cima e você verá que a lua não mudou em coisa alguma.
A superfície da água do lago, que a reflete, é que
sofreu mudança, ficando agitada.
Amigo crente, aplique a você mesmo este simples exemplo.
O seu coração é como o lago. Quando você não concede
nele lugar para o mal, o bendito Espírito de Deus revela
a você as perfeições e glórias de Cristo, para sua
consolação e gozo. Mas no exato momento em que você
acolhe em seu coração um mau pensamento, ou que de seus
lábios escapa uma palavra ociosa, sem ser logo julgada,
o Espírito Santo começa, por assim dizer, a alterar a
superfície do lago, e a sua felicidade e gozo se
desvanecem fazendo com que você fique inquieto e
perturbado até que, com espírito quebrantado diante de
Deus, Lhe confesse o pecado que tem sido a causa da sua
perturbação. Aí então ficará restaurado o sossego de
seu espírito, e você desfrutará de novo o gozo da
comunhão com Deus.
Enquanto o seu coração se sente assim intranquilo,
porventura você acha que a OBRA DE CRISTO SOFREU ALGUMA
MUDANÇA? Isto jamais poderá acontecer; e por conseqüência
também a realidade da sua salvação não sofreu mudança.
Mudou a PALAVRA DE DEUS? É claro que não. Então
permanece inabalável a certeza da sua salvação. O que
foi que mudou então? A AÇÃO DO ESPõRITO SANTO em você.
Ele, ao invés de lhe mostrar as glórias do Senhor
Jesus, e de assim encher o seu coração com o sentimento
do valor da Pessoa e da obra de Cristo, Se vê na
necessidade de deixar essa preciosa ocupação para
encher a sua consciência com o sentimento do seu próprio
pecado, sua fraqueza e sua falha. Ele o privará de sua
consolação e de seu gozo enquanto você mesmo não se
julgar, reprovando o mal que Ele julga e reprova. Porém,
quando isto acontece, restabelece-se novamente a sua
comunhão com Deus. Que, pela graça do Senhor, tenhamos
sempre uma santa vigilância sobre nós mesmos, a fim de
não entristecermos "o Espírito Santo de Deus, no
qual estais selados para o dia da redenção" (Ef 4.30).
Querido leitor, por mais fraca que seja a sua fé, fique
certo de que o bendito Senhor em Quem você tem
depositado sua confiança jamais mudará. "Jesus
Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e ETERNAMENTE" (Hb
13.8). A OBRA de Cristo consumada jamais mudará: "tudo
quanto Deus faz durará ETERNAMENTE: nada se lhe deve
acrescentar, e nada se lhe deve tirar" (Ec 3.14). A
PALAVRA por Deus pronunciada jamais mudará. "Secou-se
a erva, e caiu a sua flor: mas a palavra do Senhor
permanece PARA SEMPRE" (1 Pd 1.24,25).
Assim, pois, o alvo da nossa fé, o fundamento da nossa
esperança, e a base da nossa certeza, são igualmente
perduráveis. Com confiança então podemos já cantar:
Ó Deus e Pai, Te agradecemos
A paz, perdão e Teu amor;
Com gratidão reconhecemos
Que temos parte em Teu favor.
Permita-me, pois, leitor, que pergunte a você uma vez
mais: "Em que classe você está viajando?"
Eleve a Deus o seu coração e dê-Lhe já, sem demora, a
sua resposta.
"Quem a Deus não crê mentiroso o fez: porquanto não
creu no testemunho que Deus de Seu Filho deu" (1 Jo
5.10). "Aquele que aceitou o Seu testemunho, esse
confirmou que DEUS É VERDADEIRO" (Jo 3.33).
Querido leitor, meu desejo é que a alegre certeza de
possuir esta tão grande salvação encha o seu coração
e domine toda a sua vida, agora e até que Jesus venha.
George Cutting (+ 1934)
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